O PUTO (parte V - o cantoneiro)
As Gerberas que haviam desflorado no jardim do palacete municipal mantinham todo o seu esplendor, apesar do rigor Outonal. Sempre que passava defronte do palacete, o cantoneiro da Câmara Municipal deixava a sua mente divagar sempre no mesmo sentido. O seu desejo de ser Jardineiro, de plantar, cuidar e ver crescer flores e plantas era tão grande, que não hesitou em aceitar aquele cargo, mesmo apesar da miséria mensal que recebia. No inicio ainda acreditava que a condição de cantoneiro poderia ser o trampolim para a tão almejada tarefa de artista de jardim. Mas os anos haviam passado (já mais de vinte) e o trampolim teimava em não o catapultar. Os seus amigos (que entretanto haviam desaparecido na senda dos seus proprios sonhos e profissões) haviam-lhe dito que a diferença tambem não poderia ser assim tanta. Ao fim e ao cabo, trabalhava em jardins, lidava com plantas. Mas era (e na mente de alguns, poucos, puristas ainda é) do conhecimente geral que havia uma grande diferença entre cuidar e criar um jardim. O cantoneiro sentia-se, desde o nascer ao pôr do Sol, como um pintor a quem tinham atribuido a tarefa de guarda de galeria. cuidava de jardins, é certo. Estava diáriamente rodeado das mais belas criações florais da natureza. Mas a sua vontade artistica de criação não era, nem de perto, atendida.
Assim, tinha passado a encarar a sua profissão não como um trampolim, mas como um meio de subsistência. E aos poucos, passara a olhar para as flores e as folhas como uma simples tarefa. A excepção dava-se quando passava defronte do palacete municipal e deixava que a sua mente rebuscasse o sonho de ser jardineiro. Aquele jardim não estava apenas bem tratado. Estava realmente bem planeado. Era uma rara obra artistica, milimétricamente concebida por alguem que certamente deveria receber um premio. Mas a frustração do cantoneiro era tão grande, que toldava-lhe o raciocinio. E passara a odiar o artista responsável por aquela obra prima, sem mesmo o conhecer.
As Gerberas que haviam desflorado no jardim do palacete municipal mantinham todo o seu esplendor, apesar do rigor Outonal. Sempre que passava defronte do palacete, o cantoneiro da Câmara Municipal deixava a sua mente divagar sempre no mesmo sentido. O seu desejo de ser Jardineiro, de plantar, cuidar e ver crescer flores e plantas era tão grande, que não hesitou em aceitar aquele cargo, mesmo apesar da miséria mensal que recebia. No inicio ainda acreditava que a condição de cantoneiro poderia ser o trampolim para a tão almejada tarefa de artista de jardim. Mas os anos haviam passado (já mais de vinte) e o trampolim teimava em não o catapultar. Os seus amigos (que entretanto haviam desaparecido na senda dos seus proprios sonhos e profissões) haviam-lhe dito que a diferença tambem não poderia ser assim tanta. Ao fim e ao cabo, trabalhava em jardins, lidava com plantas. Mas era (e na mente de alguns, poucos, puristas ainda é) do conhecimente geral que havia uma grande diferença entre cuidar e criar um jardim. O cantoneiro sentia-se, desde o nascer ao pôr do Sol, como um pintor a quem tinham atribuido a tarefa de guarda de galeria. cuidava de jardins, é certo. Estava diáriamente rodeado das mais belas criações florais da natureza. Mas a sua vontade artistica de criação não era, nem de perto, atendida.
Assim, tinha passado a encarar a sua profissão não como um trampolim, mas como um meio de subsistência. E aos poucos, passara a olhar para as flores e as folhas como uma simples tarefa. A excepção dava-se quando passava defronte do palacete municipal e deixava que a sua mente rebuscasse o sonho de ser jardineiro. Aquele jardim não estava apenas bem tratado. Estava realmente bem planeado. Era uma rara obra artistica, milimétricamente concebida por alguem que certamente deveria receber um premio. Mas a frustração do cantoneiro era tão grande, que toldava-lhe o raciocinio. E passara a odiar o artista responsável por aquela obra prima, sem mesmo o conhecer.
Enquanto a sua mente divagava olhando para as Gerberas, não se apercebeu que alguem se aproximara do canteiro. Quando a voz doce e colorida chegou aos seus ouvidos, duvidou se não seriam as proprias gereberas que lhe sussuravam ao ouvido. E respondeu automáticamente e dirigindo-se ao canteiro, que sim, gostava muito de flores e de jardins, e que sim, sonhava em ser jardineiro. Quando se apercebeu que quem lhe falava era uma mulher de jardineiras verdes e ancinho na mão, assustou-se. Julgou alucinar e tratar-se da mãe Primavera personificada, mas logo apercebeu-se de que era bem real aquela figura. Assustado e envergonhado por ter, tão facilmente, aberto a torneira dos seus pensamentos perante um estranha, apressou-se a alegar uma pressa que não tinha e abandonou o jardim. Nos dias seguintes, não voltou a passar defronte do jardim do palacete municipal, e tinha conseguido não pensar na senhora das jardineiras verdes. Mas aquela aparição de uma folha solitária que recusava-se a seguir o seu destino, abalou profundamente a ordem de ideias com que diariamente se apresentava ao mundo. E assim, o pensamento de cantoneira transformara-se em pensamento de poeta enamorado. Pensava unicamente na senhora das jardineiras verdes e a necessidade de a rever crescia no seu intimo, abudado pela persistência arrogante de uma simples folha. Quando foi intimado pela situação a lançar de sua justiça, o habito ou a vergonha impediram-no de verbalizar o que lhe ia na alma. E assim, para a história ficou o comentário de cantoneiro municipal preocupado com a ordem estabelecida no que às folhas caducas diz respeito.
continua...